Nossa Terra Nossa Gente : SEU JOÃO RANGEL E O PONTO DE ENCONTRO MAIS DOCE DA CIDADE
No lado direito da Avenida Nossa Senhora do Bonsucesso, sob a sombra de longevas árvores está estacionado o trailer de caldo de cana e água de coco do Seu João Rangel. Mas, infelizmente, desde que a quarentena decorrente da Covid-19 foi decretada, seu trailer está fechado. Nas raras saídas de casa (supermercado e farmácia), desvio minhas rotas e passo pelo Alto do Cardoso só para bisbilhotar se o comércio do Seu João Rangel reabriu. Para nossa tristeza, ainda não…
Na verdade, não estou com saudade apenas do copo esverdeado de garapa geladinha nem da água de coco que refresca um pouquinho da saudade que temos da praia. Tenho saudades das boas histórias que Seu João Rangel, enquanto mói a cana, coa, despeja nos copos ou nos serve, conta para nós, seus fregueses!
Essas suas histórias trazem um toque especial a seu comércio e, mesmo depois de saborearmos a doçura que havia em nossos copos, acomodados às mesas sob a sombra dos pinheiros, não vamos embora… História puxa história, e, quando se vê, a tarde se espreguiça lá pelas bandas da Mantiqueira; os passarinhos, de bando em bando, riscam seus itinerários no céu; os carros, em corrida desenfreada, entram e saem da cidade…
Seu João, com toda a calma dos homens que viveram muitas primaveras, recolhe o bagaço da cana e as cascas do coco, organiza o lixo reciclável, fecha seu trailer e, já noitinha, busca o merecido descanso. Na casa dos oitenta e alguns anos, o metalúrgico que chegou a Pindamonhangaba nos idos de 1978 para trabalhar na Villares, só descansa aos domingos.
Nessas paragens da princesa, ele construiu sua casa, criou os filhos, aposentou-se da indústria e, graças à sua dulcíssima jovialidade, mantêm uma invejável rede de fregueses-amigos no trailer “Caldo de Cana do João Rangel”. Segredo? Ele tem sim e nos diz que descende de uma família de sitiantes guaratinguetaense (Sítio do Paiolinho, na Rocinha) e, com seus pais, aprendeu a ser honesto, ter prazer e satisfação de trabalhar e a tratar bem as pessoas.
Eu digo que Seu João Rangel é um senhor propagador de esperança: no pitstop que fazemos em seu trailer, mais do que a doçura da cana e da água de coco, suas inesquecíveis histórias conversam com nossas histórias e aquela sua força e a sua alegria de trabalhar e de viver, devagarinho, nos contagiam. Não como esse vírus cruel que nos aparta das pessoas e dos lugares que amamos. Suas histórias contagiam-nos pelo amor que ele tem à vida, à família, ao trabalho, aos fregueses e amigos que ele conquistou no ponto de encontro mais doce da cidade!