Sheila Nogueira / DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Para encerrar nossa série de entrevistas da Semana da Mulher, nossa conversa é com Sheila Nogueira de Almeida. Filha da dona Neide e de seu Ely, cresceu no bairro Vila São Benedito. Canceriana, apaixonada por trilhas e corridas, ela é mãe da Luiza e monta, mensalmente, 30 cestas básicas para mulheres em vulnerabilidade.
Além disso tudo, Sheila trabalha há 30 anos na Gerdau Brasil, onde atualmente atua como Gestora de Logística e Gestão de Atendimento a Cliente.

Entre uma viagem e outra a trabalho, Sheila conversou com a Tribuna sobre os desafios de ser uma mulher que tem uma carreira sólida no setor metalúrgico, um ambiente predominantemente masculino.

TN: Como começou sua trajetória profissional?
Sheila: Eu iniciei minha carreira aos 15 anos de idade, na antiga Villares, que hoje é a Gerdau. Isso, na década de 90, eu comecei como estagiária. Eu sempre sonhei com o meu pai trabalhando lá, porque eu morava perto da usina e todas as minhas amigas, os pais eram funcionários de lá. Então eu tinha esse desejo e aconteceu que quem conseguiu um trabalho lá fui eu. Muito jovem, eu era muito determinada e sabia que precisava estudar muito para alcançar meus objetivos. Com 15 anos, eu fazia um curso técnico de secretariado e aí surgiu a oportunidade de fazer um estágio de um mês na Gerdau. Esse estágio durou 18 meses e depois disso, eu fui efetivada na empresa. Desde então, há quase 30 anos eu sou funcionária da Gerdau.

TN: Em algum momento, ser mulher teve algum peso positivo ou negativo na sua carreira?
Sheila: Sempre fui a primeira mulher a passar por diversas áreas na empresa. A Gerdau é uma indústria metalúrgica de base e há 30 anos não era nada comum ter uma mulher neste segmento. Dava pra contar com os dedos das mãos as mulheres que trabalhavam na empresa naquela época e quase nenhuma nas áreas de produção. Então eu, quase sempre, fui a primeira a chegar a esses espaços. Então, eu tinha na minha cabeça que eu tinha uma responsabilidade com as mulheres que viriam depois de mim. Eu tinha que ter postura, seriedade, compromisso e atitudes que abrissem portas para outras mulheres.

TN: Como foi se desenvolver e ascender na carreira atuando no setor da indústria metalúrgica brasileira, onde o predomínio é de trabalhadores do sexo masculino?
Sheila: Claro que tive que me moldar muito à realidade masculina da fábrica. Tive que me adaptar pra caber em cada caixinha e não foi fácil. E como mulher, eu me cobrava também pra nunca errar, pra me destacar, porque eu entendia que meu caminho era mais difícil que o dos meus colegas homens. Então havia uma necessidade permanente de me destacar, de fazer tudo melhor que qualquer outro, para alcançar o respeito que eu precisava. Mas isso era automático, não era algo pensado, que eu analisasse. Hoje as coisas são diferentes, há uma luz sobre o tema e também nossos posicionamentos mudaram, mas acredito que foi necessário ser assim, naquele momento, para que hoje a realidade nas fábricas seja melhor, não só para as mulheres, mas também para pessoas portadoras de necessidades especiais, pessoas homossexuais e tantas outras pessoas que antes não tinham espaço e nem um olhar cuidadoso para sua condição na industria metalúrgica.

TN: Qual o papel que a mulher deve assumir diante do mercado de trabalho, com suas desigualdades de gênero, e as evoluções que vem acontecendo?
Sheila: Não é um caminho fácil! Em muitas áreas onde passei nestes 30 anos de indústria, algumas não tinham nem banheiro feminino. Então, para me trocar ou qualquer coisa assim, tinha que pedir pra um colega ficar do lado de fora, cuidando pra ninguém entrar enquanto eu estava lá. Olhando para trás, sim, eu passei por situações de preconceito por ser mulher. Assim que comecei, eu fui designada para trabalhar no porto e muitos acharam aquilo um absurdo. “Como poderia uma mulher trabalhar no porto, cheio de homens?” E no fim, mandaram um outro rapaz pra lá, eu fiquei no escritório e nunca pude trabalhar no porto. Coisas desse tipo aconteceram muitas vezes na jornada. Então foi um trabalho de formiguinha, cavando aos poucos meu espaço.
Ele foi conquistado passo a passo, com esforço, muito estudo, muita dedicação e derrubando muros a todo momento. Hoje eu sou gerente nacional da área de Gestão de Atendimento ao Cliente e também Logística e Mercado Externo. Então atuo nas usinas de Pindamonhangaba, Mogi das Cruzes, em São Paulo; e Charqueado, no Rio Grande do Sul. É um grande desafio, mas olhando para trás, vejo que todo o caminho que construí me trouxe até aqui. Então, tudo valeu a pena.

TN: Na sua opinião, como o segmento da indústria tem se comportado diante do contexto da mulher? Há uma evolução e o que ainda falta?
Sheila: Hoje vejo um caminho de inclusão da diversidade na indústria metalúrgica, especialmente na Gerdau, para que cada funcionário possa ser o que é, dentro da empresa, com todas as condições para que todos exerçam seu trabalho com liberdade de serem plurais. Eu mesma, por anos tive que me moldar para ficar mais parecida com meus colegas engenheiros homens, hoje posso atuar sob minha ótica, com a minha essência, de uma forma mais sensível, mais focada em intuição etc.
Sinto que o mercado ainda está caminhando para o que temos como ideal e justo. Muitas empresas se sentem mesmo forçadas por cobranças externas a mudar sua realidade, quanto à diversidade, à inclusão, a ter mulheres em cargos de liderança. É um movimento político, então muitas se movem por pressão. Mas tem que se começar de algum lugar. Ainda que seja por essa cobrança e não por ideais, que esse movimento siga e, com certeza, os benefícios de ter mulheres plenas e completas no ambiente de trabalho virão e não poderão ser ignorados. A Gerdau, como eu já disse, é uma empresa que acredita nestas mudanças sociais e tem trabalhado para ser uma empresa acolhedora, justa e inclusiva. E eu fico muito feliz por saber que faço parte dessa evolução.

TN: Qual o seu conselho para a mulher que sonha em se destacar num ambiente predominantemente masculino?
Sheila: Os obstáculos que enfrentei no caminho, por ser mulher, sempre me motivaram a crescer e a fazer meu melhor, justamente por entender que isso abriria portas. Dificuldades todos temos pelo caminho, independente de ser homem ou mulher, que devem ser superadas com dedicação, perseverança, resiliência. Esses são ingredientes fundamentais para vencermos qualquer adversidade. Então meu conselho para as mulheres é: estudem, se dediquem e acreditem no seu potencial.

  • Divulgação. Sheila trabalha há 30 anos na Gerdau Brasil. “A Gerdau tem investido para ser uma empresa acolhedora, justa e inclusiva e eu fico muito feliz por saber que faço parte dessa evolução”
  • Divulgação. Sheila é mãe de Luiza, de 20 anos. “Meu conselho para as mulheres é: estudem, se dediquem e acreditem no seu potencial”