Vanguarda Literária : UM HERÓI DO PENSAMENTO
O filósofo cearense Raimundo Farias Brito, se não foi o maior pensador brasileiro, foi um herói do pensamento. Na sua época, sem saber o que é esmorecer, seu espírito transformou-se num foco de luz na sombra do obscurantismo, alimentado do entusiasmo pelo saber puro que vibrava na raiz de seu ser. Estudioso e conhecedor profundo das correntes filosóficas predominantes em seu tempo, motivado por indagações metafísicas, Farias Brito filosofou enfrentando duas correntes filosóficas fortes: o Positivismo e o Agnosticismo. Quem foi esse grande pensador?
Nasceu em São Benedito, no Ceará, em 1862, formou-se em Direito em Recife, tendo sido aluno de Tobias Barreto. Foi professor catedrático vitalício de Lógica no Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. Muito religioso, pautou seus primeiros trabalhos no combate ao materialismo, à teoria da evolução e ao relativismo. Escreveu obras importantes, como: A Filosofia como Atividade Permanente do Espírito (1895); Evolução e Relatividade (1905); A Base Física do Espírito (1912), e Mundo Interior (1914). Faleceu em 1917.
No livro “A Finalidade do Mundo”, Farias Brito sonha, especula e delira, principalmente quando afirma que “tem a revelação de que Deus é a Luz”. No texto “O Momento mais Feliz da Minha Vida”, o saudoso filósofo recorda o delírio no qual ouviu, certa vez, a primeira voz das coisas: “Cada ruído, cada som, cada movimento, a mais leve agitação que se passa em torno de mim era como uma linguagem que eu sabia interpretar, o que me revelava o que há de mais oculto nas coisas”. Aqui, apreciamos a filosofia, andando de braços com o delírio. Estranho? Não! O entusiasmo que alimenta o delírio, para Platão, era uma forte e sublime energia que faz subir a alma até o céu da verdade que tanto busca o conhecimento científico no decorrer do tempo.
Ao recordar Farias Brito, que há mais de um século se queixava que “Não há, no nosso país, estímulo para essa ordem de estudos, considerando-se, mesmo entre nós, inútil o estudo da filosofia”, apreciamos, com esperança, o advento da filosofia no ensino público. E, isto se reveste de uma importância especial para os jovens, fazendo-os especular, entusiasmar-se, e…pensar!
Por outro lado, sabemos que ainda existem setores do nosso sistema educacional que encaram o ensino da filosofia como algo perigoso (o que é um retrocesso!). Mas, muito mais perigoso do que a existência do pensar filosófico é a sua carência que, sem sombra de dúvida, leva ao obscurantismo e ao radicalismo que, infelizmente, observamos no raiar da aurora do terceiro milênio. Se um sistema governamental tiver essa ideia sobre a filosofia, precisamos ficar receosos, porque se aproximam as trevas de uma ditadura! Precisamos estimular os nossos jovens a pensar! Pelo bem do nosso Brasil, pelo porvir das gerações que hão de nos suceder e pelo amor à liberdade que devemos portar conosco. Certamente, a carência de pensamento filosófico e de ética está na gênese da maior crise moral que o nosso Brasil enfrenta na sua história.Torna-se urgente que haja um salto qualitativo para que os nossos jovens, ante tudo que ocorre nos tempos atuais, encontrem rumos e possamos sair dessa calamidade que nos entristece.