Nossa Terra Nossa Gente : UM MENINO DA ROÇA VOLTA À ESCOLA

O mineiro de Ituverava veio morar em Pindamonhangaba há 30 anos. De sua infância em Rio Espera – MG, ele trouxe uma coleção de histórias, cada uma mais linda do que a outra, vividas no seio de uma numerosa família, muito rica pelos valores que moldaram o homem íntegro que Paulo José Cardoso da Silva é.
De seu tempo de menino, ficaram as lembranças do trabalho na roça ao lado da mãe, Dona Francisca, das plantações de milho e feijão, das verduras e legumes da horta, das flores do jardim. Lida que alimentou sua vida, a de seus pais e irmãos. Luta que aprisionou seus sonhos de menino e lhe escondeu os brinquedos e as brincadeiras, os livros e os estudos.
Da escola, o menino guarda as mais belas lembranças. Seus olhos brilham quando dá corda no coração e os ponteiros da memória recordam sua primeira professora, Dona Neusa, ensinando-lhe a ler e a escrever, a contar e a copiar poemas no seu caderninho de sonhos.
Por conta do trabalho na roça, ele estudou até o 4º ano primário. Naqueles tempos, ir para o “ginásio” era um privilégio dos jovens que não tinham obrigação de tirar da terra o “pão nosso de cada dia”.
O ofício de pedreiro não foi uma escolha, foi pura necessidade. Entre a areia e o cimento, os tijolos e os azulejos, os pincéis e as tintas, o jovem mineiro edificou sua profissão e garantiu o sustento dos filhos.
O sonho de estudar e de ser engenheiro ficou à espera – lá em Rio Espera – do tempo propício de sua germinação. Semente de um sonho que não vingava de jeito nenhum, nem nas suas primaveras, nem nos seus verões.
Mas, como toda semente, todo sonho encontra meios de romper planícies invioláveis e verdejar o mais ressequido chão. Foi assim que, ao completar 50 anos, o pedreiro ouviu, no toque do sino de uma escola, o chamado para voltar a estudar. Desde então, todos os dias, às seis horas da tarde, aquele menino da roça pega a mochila e, feliz da vida, vai para a escola.
Nem preciso dizer que o futuro engenheiro é um dos primeiros alunos de sua classe, uma turma de jovens e adultos que, assim como ele, sonham com um novo futuro. E não posso omitir que o mineiro de Ituverava, carinhosamente adotado por nossa terra e nossa gente, é um fervoroso torcedor do Cruzeiro que, nas horas vagas, é também poeta! E que poeta ele é!

Imagens: Divulgação
  • Todo dia, depois do trabalho, Paulo, o pedreiro, apanha a mochila e, feliz da vida, vai para a escola estudar, quer ser Paulo, o engenheiro...