História : Um presidente da república veio inaugurar o prédio da estação
Pouco mais de três meses depois de haver recebido o governador do Estado de São Paulo (na época, denominado presidente de estado) Washington Luís no dia 11 de junho de 1921 (quando o jornal Tribuna do Norte completava 39 anos de existência), a cidade de Pindamonhangaba voltava a se enfeitar para homenagear outra visita ilustre. Desta vez o presidente da República do Brasil, o Dr. Epitácio Pessoa.
Viera o chefe da nação, naquela quinta-feira, 21 de agosto de 1921, há cem anos, com a nobre incumbência de inaugurar o novo prédio da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil. Naquelas primeiras décadas do século XX, além de atender à EFCB, essa estação também atendia aos usuários da EFCJ – Estrada de Ferro Campos do Jordão. O prédio anterior já não condizia com a nova realidade do município naquele início de anos vintes.
Imprensa sempre presente nos acontecimentos significativos de Pinda, a Tribuna do Norte estampou em matéria de primeira página a visita: Dr. Epitácio Pessoa – Viagem Presidencial – A inauguração da Estação local da Estrada de Ferro Central do Brasil – As homenagens prestadas nesta cidade ao chefe da nação e sua comitiva.
A prefeitura, tendo à frente o coronel Benjamin da Costa Bueno (1920/1929) e a Câmara, presidida pelo Dr. Alfredo Machado (1920/1922), haviam preparado tudo, convidando a população e o comércio para prestigiarem o evento.
Eram (segundo o redator da TN) 19h30 quando o trem especial conduzindo o presidente da República e sua numerosa comitiva adentrava a gare da central em Pindamonhangaba.
“Já antes daquela, hora, as duas plataformas, a que faz frente à estação de cargas regurgitavam de povo. Viam-se ali, além das mais distintas classes sociais, o povo em peso da nossa cidade”, destacava a folha de João Romeiro.
Assim como o fiel e histórico representante da imprensa local, também estava lá a já histórica Corporação Musical Euterpe, que animava o povo ao executar “números alegres de músicas populares”.
Conta a Tribuna que a decoração da nova estação para a festa da inauguração oficial pelo presidente da república coube a Raphael Pires, cidadão reconhecido pelo seu talento e gosto artístico na arte de ornamentar. Auxiliaram o decorador, dona Regina Machado e suas filhas. Ressaltando ainda, a participação do prefeito, coronel Benjamin Bueno, que “…não poupou esforços para que nada faltasse à decoração do edifício”.
Também foram citados pelos serviços prestados nos preparativos da recepção e homenagem ao presidente, os seguintes cidadãos: engenheiro do distrito, Dr. Soares Neiva; mestre de linha Manuel de Carvalho, major Guaycuru e seus auxiliares.
Acreditamos, caibam aqui, na íntegra, conforme o que foi publicado na edição da Tribuna que foi às ruas naquela manhã de quinta-feira, dia 21 de agosto de 1921, as descrições referentes à ornamentação preparada para a inauguração do prédio e suas características de origem.
A ornamentação. “As colunatas e postes que suportam a cobertura da gare e plataformas, viam-se protegidas de aspargos e outras folhagens e de cujos cimos pendiam bandeiras das nações amigas; e de um extremo a outro da gare, em altura de quatro metros, um cordão de lâmpadas multicores despejavam, juntamente com as da iluminação habitual do edifício, jorros abundantes de luz variegada que se ia casas com o cromatismo das corolas das flores espalhadas em corbeilles pelos compartimentos da nova estação. A animação era intensa e geral, embora fizesse excessivo calor. Na sala destinada ao beberete a ser oferecido ao presidente da república, a decoração obedecia também ao mais requintado gosto, graças à dedicação de dona Regina Machado.
Nessa sala ao centro, via-se a mesa em que iria ser servido sua excelência o presidente da república. Sob o esplendor das luzes cintilavam cristais finíssimos e pratas antigas a se destacarem entre o alvor do linho e das camélias e rosas pálidas. Nos ângulos viam-se belas jardineiras que punham na nudez das paredes ainda frescas das últimas tintas, uma nota distinta e alegre”.
O prédio. A nova estação que Pindamonhangaba tão festivamente viu inaugurar-se, é um amplo edifício que faz honra não somente aos seus construtores, mas a nossa cidade, quando não seja também uma honra para os senhores Stambolos e Companhia, engenheiros construtores aqui residentes. Não pouparam, verdade se diga, os maiores esforços e venceram grandes dificuldades para cumprirem a contento de todos, o contrato que haviam assinado com o governo de construírem o edifício que hoje se ostenta no local do antigo e desgracioso prédio que servia de estação. E assim, os senhores Stambolos levaram a termo a penosa tarefa dotando-nos com o excelente e confortável prédio, higiênico e alegre, que d’ora em diante passará a servir as duas estradas, a Central e a Campos do Jordão.
O edifício que é feito com base de cantaria e em cuja construção foi empregado material de primeira ordem, obedece aos mais exigentes preceitos de higiene, sendo todos os seus compartimentos banhados de sol e permitem a entrada abundante de ar. Oferece acomodação folgada para os departamentos das duas estradas, havendo no hall de entrada, lugar bastante para descanso dos senhores passageiros, só sendo permitido o ingresso à plataforma mediante aquisição de bilhetes, o que virá evitar atropelos e assaltos dos carregadores aos passageiros como antigamente.
Embora ainda não estejam as obras completamente terminadas, foi realizada a benção pelo reverendíssimo vigário da Paróquia na mesma noite, assistindo ao ato, muitas pessoas gradas”.
Nota. O engenheiro “Stambolos” mencionado seria o cidadão de origem grega Dimitrius Stambulus, que na década de 30 teria sido o grande benfeitor do ator Amacio Mazzaropi durante sua passagem em Pindamonhangaba.
O reverendíssimo vigário, a quem coube abençoar o prédio, teria sido o padre José Soares Machado. À frente da paróquia de 1918 a 1924, foi o antecessor do monsenhor João José de Azevedo, o padre João.
A solenidade
A presença do presidente foi motivo de prolongados aplausos da população. A Banda Euterpe executou o Hino Nacional; a banda de clarins e cornetas do 2º Corpo de Trem (na ocasião, a unidade de Exército aqui aquartelada) e o Batalhão Acadêmico couberam a execução da “Marcha Batida”.
Em seguida, conduzido à sala preparada para a recepção, o chefe da nação foi saudado pelo presidente da Câmara, Dr. Alfredo Machado, em discurso em nome da cidade.
Prosseguindo, o presidente Epitácio agradeceu. Falou do prazer em inaugurar o novo próprio federal que se fazia necessário e exaltou as tradições gloriosas de Pindamonhangaba e seus ilustres filhos.
“Quando o Dr. Epitácio terminou a sua formosa e elegante oração, um grupo de gentis senhoritas, ao tempo em que os presentes batiam palmas, cobria sua excelência de pétalas de rosas”, destacou o redator da TN.
Inaugurada a Estação Pindamonhangaba
A inauguração foi consumada com o presidente Epitácio dirigindo-se à entrada do edifício e abrindo a porta principal que acessava ao hall da estação, concluindo a inauguração oficial.
Abertas as portas de entrada, o presidente desceu os degraus indo até o pátio fronteiro à estação, de onde alas formadas pelos soldados do Corpo de Trem e atiradores do Batalhão Acadêmico fizeram a apresentação de armas em sua continência.
Após contemplar por alguns momentos a avenida Fernando Prestes toda iluminada, o presidente do Brasil e sua comitiva, acompanhados do povo que o aclamava, encaminhou-se para o vagão presidencial. “Dali a momentos apitava a locomotiva e punha-se em movimento o especial, lentamente…”
Nesta histórica inauguração foi extensa a lista de autoridades e da população pindamonhangabense presente.