História : Uma noite de festa na igrejinha de Santa Rita
Evento religioso era o motivo da grande movimentação do povo da Pinda antiga pela rua da ponte do Paraíba em direção ao bairro do Maçaim…
A Festa de Santa Rita, já relembrada pela nossa Página de História (edição 15/6/2021), volta a ser o tema deste espaço dedicado a reminiscências da Pinda antiga. Desta vez, pela pena de um colunista colaborador da Tribuna nos anos cinquentas.
Era uma das animadas e concorridas festas religiosas com quermesse realizadas em Pindamonhangaba na primeira metade do século XX. Em dias de festa a igreja edificada à santa se acendia na escuridão da estrada do 1Maçaim.
É da edição de 29/1/1956 da Tribuna, da coluna “Fragmentos”, o artigo saudosista no qual o autor, um colaborador que se identificava pelas iniciais J.B.S., faz referência ao evento. Embora na época residindo no Rio de Janeiro, longe de Pinda, esse colunista, com certeza, vivera neste município e usava do espaço a ele proporcionado pelo jornal para reviver reminiscências. Relembrar fatos, acontecimentos, lugares e coisas da inesquecível Pindamonhangaba de outros tempos. Assim escreveu o articulista…
“Começava a escurecer e a cidade ia ficando vazia…
O ‘aterrado’ vivia o seu grande momento. Famílias inteiras, casais de namorados, grupo de estudantes, soldados e a molecada toda rumava para a Santa Rita…
De longe a gente via aquelas pequenas luzes que mais pareciam vagalumes que não apagavam…
De perto eram pedaços de bambu, com um suporte metálico segurando um pavio alimentado no querosene.
Eram dezenas e dezenas de luzinhas bruxoleando na noite escura.
Lá no fim estava a Igrejinha de Santa Rita.
Ao lado, um coreto com prendas; mais adiante as barracas vendendo quentão, café e bolo frito; depois as mesas de
‘jaburu’ com montes de tijelinhas.
Havia reza na igreja com sermão do padre falando no calor do inferno e na beleza do céu; havia leilão de prendas com o leiloeiro Raimundo setenciando implacável: ‘…dou lhe uma; dou-lhe duas; dou-lhe três…’
Havia gente tirando tijelinhas no ‘jaburu’; gente que se esquentava no quentão; gente que flertava a namorada do outro; gente dizendo que a festa deste ano não prestava, boa fora a do ano passado…
Antes da meia-noite o povo começava a se retirar. Vinha em grupos. Uns sonolentos, tropeçando; outros rindo criticando.
Às vezes era um que pisava em qualquer coisa mais macia que um boi esquecera na estrada…
Então estouravam gargalhadas.
Outras vezes um violão repinicava acompanhamento para tenores frustrados…
E todos voltava para a cidade, deixando lá no distante, ainda iluminada, a Igrejinha de Santa Rita…”
Aterrado e jaburu
O “Aterrado” mencionado pelo autor refere-se ao bairro próximo à ponte sobre o rio Paraíba, denominação simplesmente criada pela sabedoria popular: o lugar havia sido aterrado, nada mais simples e de fácil distinção.
Já a respeito do termo “jaburu”, nome de uma ave, palavra também atribuída a uma pessoa desajeitada ou, ainda, como chamavam a roleta usada no jogo de bicho, deduzimos que, segundo como foi mencionada a palavra no artigo, “mesa do jaburu”, fosse uma dessas comidas próprias de festejos populares (só o nome, não o ingrediente, mesmo porque a carne dessa ave é dura, não comestível).
Nota1 : Maçaim, antes Maçahim, nome do bairro, é grafia de origem tupi, portanto não deve ser grafada “massaim”com dois “esses”.