Veganismo além do modismo

Veganismo é um estilo de vida em ascensão que vai muito além de não comer carne e envolve se abster de qualquer coisa que tenha um ingrediente animal. O estilo de vida tem ganhado muitos seguidores nos últimos anos e conquistado notoriedade no Brasil. Calcula-se que entre quatro e sete milhões de brasileiros sejam adeptos ou estejam em vias de engrossar o grupo.
Mas por que esse “estilo de vida” tem atraído tantas pessoas?

Conversamos com Jean Jaya Deva, proprietário do Espaço Cultural Confraria Vegana, que fica na Fazenda Nova Gokula, para entender um pouco mais sobre o veganismo e o que ele representa para os adeptos e à sociedade de forma geral.

Veganismo versus Vegetarianismo

Muita gente confunde os dois conceitos, que são ligados à alimentação. Segundo Jean, quando falamos de vegetarianismo, nos referimos a uma prática milenar, que se baseia na alimentação composta somente por alimentos vegetais. Do vegetarianismo surgiram algumas derivações, como as dietas ovo-vegetarianas (compostas por alimentos vegetais e ovo), lacto-vegetarianas (compostas por alimentos vegetais e os derivados do leite), ovo-lacto-vegetarianas (compostas por alimentos vegetais, ovos e os derivados de leite) etc.
Já o vegano não come nenhum produto de origem animal e também não usa nenhum produto que tenha sido testado em animais, por exemplo, vacinas, sabonetes, xampus, entre outros. Além disso, não utiliza produtos de origem animal como sapatos, cintos, bolsas e roupas em geral feitas com couro, por exemplo.

“O lacto-vegetarianismo é praticado aqui na Fazenda, por exemplo, porque entendemos que, numa agricultura rural e familiar, não há sofrimento no ato de tirar o leite da vaca para consumo humano. Porém, eticamente nos colocamos contra isso no mercado, porque hoje em dia, a industrialização do leite implica em violência contra o animal e por isso, condenamos essa prática neste contexto”, explica Jean.

É caro ser vegano?

Ainda que a premissa do veganismo de proteger a vida dos animais seja admirável, não é todo mundo que adere a esse estilo de vida. Uma das justificativas mais comuns é que “é coisa de rico”. Mas será que abolir os alimentos e produtos de origem animal sai tão caro assim?
“De fato, há itens veganos nas prateleiras dos supermercados que pesam no bolso. Há também uma campanha do próprio mercado alimentício brasileiro, pautado no consumo de carne, que prega que produtos veganos são mais caros e de difícil acesso. Mas existem pequenos produtores que fabricam itens de qualidade por serem artesanais. Além disso, é importante que o vegano tenha disposição para cozinhar sua própria comida. Então, dá para ser vegano e gastar pouco. O veganismo não é elitista, ele é baseado em uma alimentação simples, como farinhas variadas, temperos baratos, legumes e hortaliças. A gente aprende a economizar com a ‘mão na massa’ e comendo tudo do bom e do melhor que há na natureza”.

Uma questão espiritual

O veganismo está ligado a uma questão mais profunda, que é a evolução espiritual do homem. “Matar um animal para a alimentação causa mais dor do que comer alimentos de origem vegetal, e devemos ser sensíveis o suficiente para sentir. Ainda que você não mate pessoalmente um animal para se alimentar dele, a sua permissão a essa violência, ao consumir carne, te faz também gerador desta dor. E no universo, nossas ações não-iluminadas voltam para nós. Isso é o que chamamos de ‘karma’. Na filosofia e nas religiões indianas, o karma é uma espécie de lei universal de causa e efeito. Uma boa ação leva a bons resultados e uma má ação a maus resultados. Tornarmos-nos mais sensíveis à nossa alma, ao nosso entorno, à nossa própria vida, é o caminho para elevação espiritual. O veganismo é apenas uma das muitas coisas boas que nossa alma nos dirá para fazer, se apenas a ouvirmos”.
Vários mestres e espiritualistas como Buda, Hare Krishna, Mahatma Gandhi, entre outros, preconizavam que a elevação espiritual e a ampliação da consciência gera como efeito, no ser humano, uma dieta alimentar livre da carne e de produtos de origem animal.

Pelo bem de todos

Outro princípio do veganismo é a fraternidade entre os seres. Para colocar de outra maneira, a Terra não é propriedade exclusiva do homem. “Devemos respeitar todo e qualquer ser como igual, pensar no outro como pensamos em nós, e entenderemos que somos parte de um todo. O bem de todos é o nosso próprio bem. Quando o respeito e o amor imperarem neste planeta, chegaremos próximos ao fim da corrupção, das guerras, do preconceito. Somos todos ‘almas em corpos diferentes’, com os mesmos direitos sobre a Terra. Não importa se tem duas pernas ou quatro patas. Alimente-se de vida para transbordar amor”.

 

  • O veganismo se diferencia do vegetarianismo por ser mais amplo e tem ganhado adeptos no mundo inteiro
  • A cozinha vegana é diversificada e abrange todos paladares
  • Jean Jaya Deva tem um restaurante vegano em Pinda
  • Ao contrário do que “diz a lenda”, a comida vegana pode ser simples e barata