Vila Olímpica tem mais de 600 novos trabalhadores em “força tarefa” nos prédios
A Vila Olímpica recebeu a maior delegação para os Jogos Olímpicos do Rio até agora: 630 operários entre encanadores, eletricistas e funcionários de limpeza foram contratados às pressas para recuperar os apartamentos que apresentaram avarias e que culminou com a negativa da equipe da Austrália de ocupar os 15 andares que lhes foram destinados.
Os funcionários foram divididos em três turnos. Trabalharão dia e noite, tal a necessidade da organização olímpica de entregar logo, em estado digno, as dependência que serão utilizadas pelos esportistas. Os operários relataram ter se deparado com apartamentos tomados por infiltrações, com fiação exposta e placas de gesso do teto prestes a desabar.
“Às vezes olho e acho que não vai dar tempo de terminar”, disse um deles, que há seis meses trabalha em diferentes funções na Vila Olímpica. O operário afirmou já ter trabalhado na colocação de divisórias, na montagem de estruturas temporárias e em trocas de pisos.
Os maiores problemas, segundo os trabalhadores, estão no conjunto de edifícios Pedra da Gávea, os últimos da vila e onde está instalada inclusive a delegação brasileira. “O que parece é que foi feito nas pressas. Os pisos estão sendo reinstalados porque deu vazamento”, contou um deles. Ele também disse que encontrou apartamentos com fios elétricos à mostra, energia desligada e manchas de infiltração nas paredes. Esses imóveis já estavam mobiliados, prontos para receber ocupantes, acrescentaram.
Os operários trabalharam nessa segunda-feira até mesmo em edifícios que já estão recebendo atletas. Isso contrasta com o que prometera o Comitê Rio-2016, no domingo passado, quando emitiu nota informando que faria de tudo para não atrapalhar o sossego dos esportistas que disputarão os Jogos.
Além dos operários, as equipes da limpeza estão se revezando em escalas de 12 horas de trabalho por 36 horas de folga. A orientação é agilizar o serviço nos apartamentos que estão para serem ocupados. A faxina tem que ser completa, conforme relato dos operários sobre as orientações recebidas.
Uma das faxineiras contou que trabalhou no sábado passado na limpeza do prédio destinado à delegação da Austrália. “Estavam imundos. Tinha cozinha cheia de água, apartamentos com infiltrações. Eles terminaram a obra e liberaram para a gente entrar no sábado. Veio o reforço de uma equipe de limpeza de Copacabana. Fizemos um mutirão”, contou a funcionária, que entrou no turno iniciado às 19 horas de domingo. Antes de terminaram as obras, os funcionários da limpeza não puderam atuar nos prédios.
Um eletricista, carregado com fios e equipamentos para medir a voltagem, disse que encontrou “tudo errado” dentro dos edifícios Ele não quis entrar em detalhes. Os operários afirmaram que os maiores problemas apareceram nos últimos prédios entregues pela construtora. “Os primeiros estavam direitinhos”. Mas outros edifícios também apresentaram defeitos.
“Meu apartamento estava sem água quente no domingo, mas agora foi resolvido”, disse o fisioterapeuta filipino Ferdinand Brawner. A delegação do país, com 29 integrantes, ocupa todo o 12.º andar do edifício 2, que fica na ponta oposta ao do Brasil
O diretor de Comunicação do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, Mario Andrada e Silva, prometeu entregar nesta quinta-feira uma Vila Olímpica “impecável”, depois de uma série de problemas de acabamento detectada pelas delegações, em especial a da Austrália, que classificou os apartamentos de “inabitáveis”.
Em palestra durante seminário sobre esportes e negócios, o executivo informou que 630 operários foram recrutados no fim de semana para resolverem os problemas como vazamentos, ralos entupidos e falhas no fornecimento de energia elétrica.
Segundo Andrada e Silva, as delegações que decidiram contratar serviços próprios para reparar os defeitos arcarão com os gastos Questionado se o Comitê Organizador vai cobrar ressarcimento do consórcio construtor da Vila Olímpica, formado por Carvalho Hosken e Odebrecht Realizações Imobiliárias, o diretor evitou confronto e disse que o tema será discutido no futuro.
“Hoje a gente tem 630 homens trabalhando 24 horas por dia para consertar os problemas. A gente deve terminar a entrega impecável desta vila provavelmente na quinta-feira. A gente não tem vergonha de isso ter acontecido. É triste que todos os atletas não tenham chegado com a vila em ordem, mas a gente tem certeza de que vai entregar uma vila perfeita. É a vila mais complexa, mais bonita, mais elegante da história dos Jogos”, afirmou.
Entre os 630 operários estão grupos cedidos pela prefeitura, trabalhadores do consórcio construtor e contratados pelo Comitê Organizador. “Estamos cuidando dos custos de reparo dos apartamentos. Os comitês olímpicos que decidiram usar suas estruturas próprias para consertar alguma coisa vão arcar com seus custos. Autuações, indenizações, essa coisas todas vão ficar para depois dos Jogos porque nossa principal missão é receber os atletas”, afirmou Andrada e Silva. Ele destacou que representantes de todas as delegações visitaram a Vila Olímpica durante as obras.
“Todo mundo vistoriou a vila, não foi só o Comitê Rio-2016. Todos os comitês olímpicos, os australianos vieram aqui várias vezes, uma construção desse porte sempre tem algum tipo de problema. Não cabe discutir agora quem errou, quem não fiscalizou, disse.
Andrada e Silva afirmou que a maioria dos problemas foi detectada quando das ligações de água e luz. Questionado por que as instalações não foram feitas antes, ele disse que havia vários outras medidas imprescindíveis para o funcionamento da vila, como a construção do refeitório.
“Tinha que construir tendas gigantescas, depois colocar móveis. Nesse processo, água e luz não estavam completamente ligados porque a gente teve que fazer redimensionamento da energia de toda a estrutura olímpica. Quando ligou, começamos a perceber problemas, corrigir. Entra um pouco a tensão, pressão. Não é um processos linear, é dinâmico”.
Segundo ele, ao perceber os problemas nos apartamentos, “nossos hóspedes estavam ficando bastante nervosos”. “O ritmo das negociações é sempre muito tenso e muito produtivo. A gente se reúne com os chefes de equipe duas vezes por dia, é sempre uma pancadaria, mas sempre se chega a uma conclusão unânime. Faz parte desse tipo de ambiente”, afirmou Andrada, que negou que o responsável pela administração da Vila Olímpica será demitido. “Demitir resolve alguma coisa?”
Desde o início da manhã de domingo até a noite de terça-feira, 120 delegações ocupavam a Vila. No total, 1.700 pessoas deveriam dormir no local na noite de segunda, sendo 400 atletas.
A construtora Odebrecht e a Carvalho Hosken não quiseram se manifestar sobre os problemas na Vila Olímpica. O consórcio Ilha Pura, composto pelas duas empresas para construir e, após a Olimpíada e a Paraolimpíada, comercializar o empreendimento formado pelos 3.604 apartamentos, informou que só o Comitê Organizador se pronunciaria sobre o tema.