BALADA À LUZ DE VELAS

O segredo deveria ter sido guardado a sete chaves. Entretanto, alguém abriu o bico sem querer. O colaborador que ouviu, levou a informação à direção, e a direção não a valorizou. No dia seguinte, ao se aproximar de um burburinho, o mesmo colaborador ouviu sobre uma reunião que aconteceria para acertar detalhes. Prevendo novo descrédito … Ler mais

Intrometida

Na cidadezinha de uma rua só morava a septuagenária viúva com seu gatinho, numa casa minúscula de quarto, cozinha e banheiro. O dormitório era no cômodo cuja janela espiava a rua. A casa era muito antiga, sem muros, igual àquelas de calçada unida à parede. Durante o dia, antes de o galo cantar, ela se … Ler mais

POST MORTEM

— Trouxe o diário? — Diário? Qual diário? — O diário da sua vida. — Como assim? — Sabe aquele caderninho no qual estão registrados todos os seus erros e acertos? Então, é aquele. Trouxe? — Não tenho nenhum diário. Nunca tive. O arcanjo balançou a cabeça e convocou testemunhas. — Eis aqui mais um … Ler mais

ENTRANDO DE SOLAENTRANDO DE SOLA

Pai, mãe e filha estavam reunidos. Ele, nervosíssimo, recalculava os gastos pela centésima vez. A mãe pensava numa maneira de evitar a erupção. A filha se mantinha inabalável. De repente, o estrondo: — Chega! Desse jeito iremos à falência! A filha, após se recompor do susto, se adoçurou. — Que exagero, paizinho querido do meu … Ler mais

AS IRMÃS PASSARINHAS Dedicado às minhas amigas Neila e Bete

Em outra dimensão, depois do rio que engole a estrada em períodos de nuvens choradeiras, existe uma gaiola de grande dimensão. Dentro dela estão guardadas passarinhas depenadas que experenciaram os lodaçais da vida. Durante a noite, algumas piam de saudade dos filhos; outras, dos pais ou dos maridos. Também há aquelas de coração só um … Ler mais

BICHINHO DE ESTIMAÇÃO

Outro dia, encontrei meu amigo Cidão numa pizzaria. Ele me contou: — Meu filho me pediu outro cachorrinho. Cachorrinho, não. Cachorrão, porque o menino do sexto ano vivia dizendo que tinha um dobermann capaz de estraçalhar o nosso chihuahua com uma patada só. Convenci meu filho a não dar importância àquilo. Mas reconsiderei quando, passeando … Ler mais

DIA DAS MÃES

Dona Miguelina não existe mais. A mais antiga moradora do bairro foi levada pela ceifadora, aquela insensível que não negocia prazos. A senhorinha de cabelos liláceos morou durante a maior parte da vida na modesta casa 85, na Rua dos Violinos. Alguém me disse — esqueci quem foi — que ela possuía dúzias de borboletas, … Ler mais

DEDINHO CURIOSO – (Para as crianças de todas as idades)

A menina que morava no sobrado cor-de-rosa, por ser muito curiosa, não parava de explorar: toda vez que ela encontrava um buraco diferente, seu dedinho ia na frente pronto para cutucar. Foi assim que conheceu cada casa de botão da camisa que o irmão colocou sobre a cadeira. Foi assim que ela sofreu para tirar … Ler mais

NEM TUDO É O QUE PARECE SER

Benedito falava sem pensar. Não tinha papas na língua. Opinava sobre tudo e sobre todos para quem quisesse ouvir. E quem não quisesse, também. Geralmente, estava errado; por isso, vivia arrecadando inimizades. Era ele um homem de trinta e poucos anos. Não era bonito, nem feio. Não era pobre, tampouco rico. Era estafeta. Há dois … Ler mais

A CIGANA NÃO SE ENGANA

— Você me acha bonita? — O quê? — Bonita. Você me acha? Ele ficou perplexo. Petrificado, melhor dizendo. Durante alguns segundos tentou se convencer de que era uma pegadinha. Alguém devia estar escondido e rindo da sua cara de sei-lá-o-quê. — Sou bonita ou não sou? Quando saísse dali iria socar a cara do … Ler mais

PASSAGEIRO FANTASMA

O tempo, que parece ter diminuído, continua do mesmo tamanho. A impressão equivocada da exiguidade temporal é provocada pelo acúmulo de atividades, sejam elas domésticas, profissionais ou sociais. Estamos vivendo como máquinas. Estamos vivendo a era da pressão absoluta, a era das enfermidades físicas e, principalmente, das mentais. Trabalho na cidade vizinha, com números. Vou … Ler mais

COISA DE LOUCO

Recém-formado, Francisco adquiriu a casinhola cor de dor de barriga localizada a duas quadras da única igrejinha de Cafundó do Judas. Era a que dava para comprar. Se torrasse a pequenina economia não teria como sobreviver. Por isso, ele mesmo substituiu telhas quebradas, cobriu buracos e rachaduras das paredes e as coloriu. Durante o restauro, … Ler mais